Não tente controlar o incontrolável

Não se sinta sozinho nessa ação, é natural querermos controlar e é até saudável certa dosagem de controle. A desarmonia e o desequilíbrio aqui dependem somente da intensidade e de quanto tempo passamos sobre essa demanda.

Portanto, nosso ponto de partida será entender esse limite, mas o nosso objetivo aqui é trazer a luz do conhecimento para tirar o “controle” do subconsciente das nossas ações e trazer mais paz interior.

Essa paz só é possível quando temos a clareza que somente controlamos o que está no dentro de nós, não existe qualquer controle pelo que está do lado de fora.

Para isso é primordial entender como surge a necessidade de controlar.

Vamos começar pelo fato de que o ser humano não tolera muito a incerteza e a frustração. Não saber e não conseguir, pelo menos como gostaríamos, produz insegurança.

Esse sentimento aciona uma das reações naturais do ser humano: ficar alerta. É uma reação automática e incontrolável construída para que você sobreviva e não gaste combustível desnecessário, que no nosso caso chama-se energia. Essa reação é positiva e, normalmente, nos ajuda a lidar com os problemas.

Mas, em alguns momentos da vida ou diante de determinados desafios, acontece algo a mais, ou seja, um gatilho que deflagra uma reação mais intensa, que pode desencadear um sentimento de insegurança mais intenso e ameaçador. Ele pode ser acionado por diversos fatores, dentre eles algum alarme da infância, por traumas experienciados ou simplesmente por falta da capacidade de gestão emocional, seja esta por ausência de treino ou por excesso de exposição. Por algum desses ou outros motivos, essas reações emocionais automáticas ficam mais frequentes e intensas e isso aumenta a incerteza e a frustração.

Juntamente com a segurança, uma outra necessidade básica humana, que será requisitada aqui, é o amor. Quando isso é quebrado e a pessoa passa a não se sentir amada, consequentemente ela se sente insegura e com medo, o que pode futuramente se derivar em sentimentos de mágoa, rejeição, traição, solidão e desamparo.

Isso tudo promove a tão e conhecida ansiedade, um estado frequente do controlador, que gera ações em cascatas. Talvez consigamos identificá-las em nós como: assumir responsabilidades cedo demais ou em excesso, querer muito fortemente controlar as situações, às vezes, forçar as pessoas a agirem contra a sua vontade, fazer com que nos sintamos competidores e entendendo que tudo se torna um desafio, confronto ou conflito, o que até nos motiva inicialmente.

A intimidação, a dureza com as palavras, a raiva, a crítica e autocrítica também compõem facilmente esse cenário. E, talvez soe assustador, mas a persona controlador (a) ainda se surpreende quando alguém diz que foi magoado pelas ações dele. Existe uma ilusão de que está sendo feito o necessário e o melhor, portanto, um favor para as pessoas. A maior compensação acontece quando conseguimos fazer o impossível, contrariando todas as possibilidades.

Quem se identificar com isso possui, com certeza, o sabotador Controlador e entende que precisa assumir o controle para sobreviver e não tolera ser controlado pelos outros ou pela vida, que precisa se proteger do risco de se sentir inseguro e não amado.

Apesar de ser uma ilusão, esse controle promove segurança e consequentemente amor, traz poder para modificar, decidir e comandar o resultado.

Voltemos à ansiedade, o real e mais verdadeiro amigo e inimigo dos controladores. Ela nada mais é do que uma derivação do medo, que nos coloca em estado de alerta e gera uma obstinação por controle e poder. Achamos ser um porto seguro para se afastar da depressão, pois existe aqui a ausência de estímulo e desejo para fazer coisas. A ansiedade nos deixa pilhados e adrenados para termos a disposição e força para lutar e enfrentar, ou encontrar nossa psedo-coragem. Por isso, aparentemente, ela ajuda a lidar com a incerteza e a insegurança.

Apesar disso não ser verdadeiro, achamos que a preocupação contínua irá impedir o resultado das coisas, além de proporcionar um resultado adicionado, o aumento do gasto de energia e também do desconforto das pessoas ao redor. Quando o resultado não acontece e gera chateação, deprime e gera mais ansiedade, nomeamos isso de frustração.

O controlador tem em sua mente somente duas posições, a de com e sem controle, e isso faz com que seu cérebro entre no modo de defesa, de luta. O não ganhar só consegue gerar sentimentos de raiva, intimidação, impaciência com perfis diferentes e a não admissão de se sentir rejeitado.

Toda essa ampla introdução, só demonstra que esse assunto é muito maior e mais complexo do que podemos imaginar. E a pergunta que não quer calar é: como mudar isso?

É mais simples e complexo do que possa parecer. Simples é a solução, e complexo é a manutenção, pois exige disciplina, vontade e busca.

  1. Gestão de si e das emoções
  2. Ressignificação das crenças e modificação dos nossos pensamentos geradores da ação.

Em resumo, o tão conhecido caminho do autoconhecimento. Somente assim conseguiremos identificar qual a intensidade desse sabotador e como isso afeta o nosso coeficiente emocional e de positividade. Somente com essa gestão é que conseguiremos ter flexibilidade, autodomínio, empatia, compaixão e clareza do que é necessário para não mais se agarrar a esse controlador para se proteger.

Para ser ainda mais generosa com essa compreensão, eu sugiro que leia e reflita sobre as certas verdades ou leis da natureza que vou descrever aqui.

  1. Aceite e tolere que certezas e inseguranças absolutas não existem.
  2. Mesmo que nos esforcemos muito em algo, isso não significa que vamos conseguir, significa que teremos resultados proporcionais ao nosso empenho.
  3. Poupe sempre energia e tempo.
  4.  Responsabilize-se por você mesmo.
  5. Entenda que a verdade possui várias óticas.
  6. Observe com o que você se importa.
  7. Seja flexível.
  8. Tenha interesse. O desinteresse, às vezes, pode significar o medo.

E se pudesse acrescentar mais algo que seja relevante, diria duas coisas. O sabotador oposto ao controlador é o vitimizador, ou seja, aquele que na ausência do amor passa a culpar alguém ou algo por tudo que acontecesse com ele, não entendendo que não existem culpados e sim participação em resultados.

E a outra coisa seria dizer que esse sabotador é bem frequente em pessoas que possuem mais exacerbado o perfil comportamental do executor, o que não necessita dizer necessariamente e nem exclusivamente.

De um modo ou de outro, seja tentando ter controle e trazendo todas responsabilidades para si ou se ausentando delas, não estamos praticando a verdadeira contribuição que se resume em mudar a nós mesmos, pois essa gestão nos impede a criação de mecanismos de defesa, que nos fazem fugir da realidade manipulando o mundo para sentirmos segurança e, consequentemente, amor.

Podemos até adiar, mas essa resistência em entender que somente quando se muda dentro é que se muda fora, só pode e gerar sofrimento, dor e angústia.

Quanto maior o desafio, maior também será a necessidade de autodomínio e de gestão emocional, e por favor, não confunda isso com controle, pois como dissemos no início, não há controle em nada que não seja do lado de dentro.